Gentem, adorei este texto feito por Denise Gallo. Alguém discorda?
Era uma vez um dia livre. Vontade de ficar em casa, sem fazer nada. Mas talvez
você devesse ir à academia se exercitar um pouco. Pensando bem, tantas exposições legais e tão raro ter um dia livre. E sua avó, que
você prometeu visitar? Mas, se for ficar em casa mesmo, vê se arruma aquelas
gavetas! Para distrair suas vozes internas,
você decide
folhear uma revista. E a tortura prossegue...
A página, aberta
aleatoriamente, diz assim: "transforme uma simples
chuveirada em um ritual de beleza e bem estar". Mas por que uma simples
chuveirada não pode ser uma simples
chuveirada? Por que tudo tem que ser uma
experiência maravilhosa,
inesquecível? Na
chuveirada e na vida? E, pior, o que fazer com essa verdade mentirosa que diz que tudo depende das suas escolhas? Do Mozart que, caso você escolha fazer seu bebê ouvir, o fará mais inteligente à soja que, caso
você escolha comer, fará
você viver mais. A
perguntinha segue r
essonando: será que
você está fazendo a escolha certa?
A combinação do discurso da autonomia individual com ideias de vida sempre tão rigorosos que pode ser muito
boa para quem vende produtos, técnicas ou conselhos. Para quem está do lado de cá do balcão, é apenas um
cercadinho travestido de
liberdade que gera falta e
frustração. Você paga pela
frustração de nunca chegar lá - até porque "lá" nunca estará no mesmo lugar - e ganha a culpa de brinde, ao duvidar das escolhas que fez.
Culpa, o pretinho básicoCurioso como a culpa tornou-se um lugar-comum nas representações do feminino
contemporâneo. Falar da mulher, de uns tempos para cá, é quase sempre falar de múltiplos papéis e da culpa pela
impossibilidade de exercê-los com perfeição. Na
mídia e na publicidade, a culpa feminina é o
tubinho preto, o
must have. E funciona como o componente de sinceridade de um discurso que pretende ser mais verdadeiro. Que ganho pequenino. Sinceridade, mesmo, é dizer que
a mulher sente tanta culpa simplesmente porque não é livre. Porque no picadeiro de mulheres malabaristas, trapezistas e
equilibristas ainda não cabem outras escolhas ou reais imperfeições. A não ser por esta pequena, embora muito
perturbadora, concessão: a culpa por não se perfeita.